domingo, 30 de dezembro de 2007

Uma grama ou milímetro a menos de egoísmo.

2007 chega ao fim; tempo de balanços, retrospectivas e novas resoluções para o ano de 2008 que esta à porta.
De 2007, pouco ou nada de bom retenho. Perdi mais algumas costelas da alma portuguesa, pouco a pouco deixo de ser português, para não conseguir ser nada.
Definitivamente agnóstico, não festejei o natal, não comi bacalhau com couves, filhoses ou bolo-rei. Não decorei a arvore, que à dois anos não sai da cave, não distribui nem recebi prendas.
Na lenta rotação da vida sobre si mesma, os laços familiares vão-se corroendo, de sólidas amarras passam a frágeis linhas, a amizade é substituída por rancores e aversão.
Não sei se o egoísmo se pesa ou se mede, mas um ano 2008 com uma grama a menos de egoísmo, seria já um bom ano.

domingo, 4 de novembro de 2007

Já estamos em Novembro?

O mês de Outubro passou a correr; preparação do espaço Apple Shop in Shop e do lançamento do Leopard , alguns dias em Praga e, oupps, estamos em Novembro. O frio, as decorações de Natal e a febre consumista já omnipresentes. Antes da minha depressão costumeira do final de ano, deixo duas fotos dos inúmeros monumentos que podemos admirar na bela cidade de Praga, e dou os parabéns à minha sobrinha Salomé, que vi, mas sobretudo ouvi a sua bela voz, num filme (projecto escolar) projectado numa verdadeira sala de cinema.

Dois dos inúmeros monumentos...

...que podemos admirar na bela cidade de Praga

sábado, 22 de setembro de 2007

Infecção na Basicula

Meia hora de conversa com a D. Constância e fico a par das novidades da aldeia.; Invariavelmente, a par de um raro nascimento ou divórcio, as principais novidades prendem-se com o estado de saúde dos meus conterrâneos. Este sofre de câncer nos palmões, aquele de pedra nos rinzes, outro tem a prosta avançada, ursas no estômago são às dúzias. A aldeia inteira sofre de rumático e de problemas na espinha. Nesta última estadia, o caso mais dramático foi o do Quim que apanhou uma infecção na basicula, e esteve quase a bater a bota.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

8 dias a reda cu

Ou em marcha atrás, para quem não perceber as subtilezas da terminologia alto-minhota.

Domingo, 16 de Setembro 2007, dia de cozido.
A receita:
Ingredientes para ??? pessoas : 300g de carne vaca, 1 chouriço salpicão caseiro, 1 quarto de frango, 300g de presunto caseiro, 300g de costela, 300g de toucinho entremeado; uma mão de porco; 1 repolho, 4 cenouras, 6 batatas, 250g de feijão verde. Uma tigela de arroz.
Confecção:
Leva-se uma panela (grande) meia de agua ao lume. Quando a agua ferver, botam-se dentro as carnes. Deixa-se cozer as mesmas o tempo necessário (no meu caso, o tempo de ir comprar o jornal à farmácia, ler as noticiais principais e tomar dois cafés no Vaz). Retiram-se as carnes, e acrescenta-se duas tigelas de agua que será retirada para levar o arroz ao forno. Quando ferver de novo, retira-se a água para o arroz, e mergulham-se os legumes. Deixa-se cozer. Numa assadeira de barro, onde previamente se deitou a água, dissolve-se uma colher de cha de açafrão, junta-se o arroz e leva-se ao forno.
Quando os legumes estiverem cozidos, (no meu caso, o tempo de beber três copos de Alvarinho pingo doce vinificado pelo Anselmo Mendes – não vale nada, diga-se de passagem- de pôr a mesa e colocar uma garrafa de tinto caseiro a refrescar) colocam-se as carnes dentro da panela para aquecerem. Retiram-se e cortam-se as carnes, colocando-as numa travessa; noutra travessa, colocam-se os legumes; Retira-se o arroz do forno e coloca-se tudo na mesa.
Serve-se os convivas, neste caso dois, eu e o meu pai, pois a minha mãe quase que ainda não come, saída do hospital à 4 dias. Acompanha-se com a garrafa de tinto de litro, uma mistura de “qualidades” e uns resquícios de jacquez.
Consequências:
As seis da tarde , depois de 2 cafés, 1 whisky velho e três garrafas de água das pedras no Freak’s Bar, parece que a mão de porco ainda anda aos chutos no presunto dentro do estômago.

Sábado, 15 de Setembro 2007

Um calor de rachar, S. Pedro está a ficar chalado, confunde os meses; Um calor destes, quando o santo ainda atinava, era em meados de Julho ou princípios de Agosto. Almocei bem ( massa com feijão, chouriço, carne de vaca e toucinho entremeado, tudo regado com uma tigela de quartilho). Estou sentado debaixo do limoeiro, corre uma ligeira brisa que ameniza a temperatura, e releio o jornal do dia. Resvalo para uma ligeira sonolência, leio um título aqui, duas linhas acolá, passo um quarto de hora em cada página. Não longe de mim, um gato a espiar-me, como eu, meio acordado, meio a dormir. De repente, acordo-me a mim e ao gato, com dois peidos valentes (esqueci-me de dizer que comi mais feijão do que massa), que quase fizeram com que me caisse um limão em cima da testa. Chega de calaceirice, digo-me a mim mesmo. Toca a fazer algo. E foi ai que me disse, agora que pus o meu blog no ar, tenho de o alimentar. E começo a tomar notas mentais sobre a actualidade, a ver se arranjo algo sobre que escrever.

O sopapo de Filipão ocupa duas páginas no DN; Jornalistas, colunistas, analistas e políticos opinam, analisam, julgam o sopapo de Filipão. Uns condenam, outros desculpam, todos comentam. Quanto a mim, digo aleluia, depois de cinco anos sem fazer nada e a ganhar milhões, até que enfim que faz alguma coisa de jeito. Estou convencido que o sopapo de seu Luis Filipe , fez falar mais da selecção portuguesa e de Portugal na Europa do que o quarto lugar no último mundial. Força, seu Luís, isto é mata mata, se não vai a chuto no couro esférico, vai a murro no focinho!

Sexta-Feira, dia 14 de Setembro 2007

Fui almoçar aos Arcos de Valdevez. Esta Vila do Alto Minho, de que sempre gostei, tem tido uma evolução digna de louvar. Asseada, com uma marginal do Vez bem ordenada e convidativa, o centro restaurado, respira-se ar puro e come-se bem. Mesmo o parcómetro avariado me deu satisfação. Estive estacionado três horas e ninguém me multou, coisa rara nos dias de hoje.
De regresso a casa, releio o jornal; como não podia deixar de ser, o caso Maddie ocupa metade do jornal. Lamento, como todos, que uma criança tenha desaparecido e que esteja eventualmente morta. Agora, o circo mediático que se montou à volta deste caso, onde até o papa meteu o nariz, mete-me nojo. Dois médicos ingleses, que dão soníferos aos filhos para irem emborcar seis ou oito garrafas de vinho para o restaurante com os amigos, há muito que deviam estar presos. Se há povo arrogante, xenófobo, em suma nojento com a sua superioridade aristocrática, são os ingleses. Que o resto do mundo, e os portugueses em particular, lhes dê toda esta atenção, demonstra muita estupidez e submissão parola.

Quinta-Feira, dia 13 de Setembro de 2007
Li qualquer coisa sobre o negócio da saúde em Portugal, que me fez lembrar a tia Joaquina, talhadeira de peçonha e mau ar.
Com os centros de saúde a encerrarem a torto e a direito, os hospitais a reduzirem os médicos e enfermeiros ao mínimo dos mínimos, os portugueses terão que se habituar a terapias de antigamente. Dantes, existia nas aldeias, a par dos endireitas e bruxos, a figura da talhadeira. Concentravam-se patologias diversas - doenças da pele, depressões, falta de apetite, dor de corno ou icterícia – em duas definições abrangentes : peçonha ou mau ar. Para isso, recorria-se em primeiro lugar à talhadeira – o SAP dos tempos do Salazar. A receita consistia numa lenga-lenga, um misto de satanismo e catolicismo, acompanhada de gesticulação adequada que rezava assim :
- Sapo, sapão, cobra, cobrão, aranha, aranhão, lagarto, lagartão, eu te corto, eu te retalho, a cabeça e o rabo. Pela graça de Deus e da virgem Maria, um padre nosso e uma ave Maria.
Por vezes acontecia que o talhado vinha a recuperar das maleitas, confortando assim a ideia de que a talhadeira tinha verdadeiros poderes.
Para os miúdos, que na brincadeira pediam à tia Joaquina que também lhes talhasse a peçonha, esta tinha inventado uma receita a propósito:
- Se uso e pela tinhas porque não me dirias que eu ta talharia com três peidos meus, três de Mateus, três do nosso cão, e vai-te embora que já estas são.
Se a tia Joaquina vivesse hoje, a miúdos e graúdos certamente diria algo assim : se alguma doença tens, bastará dizer, talhado serás, com três peidos de Sócrates, três de Cavaco e três de Durão, vai-te embora que já estás são.
Quarta-feira, dia 12 de Setembro 2007
Inicio de mais um ano lectivo, embora em apenas algumas escolas. A abertura da totalidade deverá acontecer lá para meados de Dezembro, quando se conseguir conciliar professores, alunos e estabelecimentos.
Este ano, a novidade consistiu em termos o governo em peso a dar o tiro de partida. Primeiro ministro, ministros, secretários de estado, adjuntos dos secretários, espalharam-se pelo país. Parece que andaram a entregar computadores com Internet às escolas. Para o ano irão entregar telemoveis, depois relógios com televisão, que Portugal precisa de gente bem (in)formada e com capacidade de comunicação.
Entretanto, eu gostaria de saber a quanto monta a factura da Microsoft, TMN e outros parceiros.
Terça-Feira, 11 de Setembro 2007
Avistei a Margarida, adjunta dos padres que tem passado pela minha aldeia e eterna candidata a celebrar missa e confessar almas. Não sei porquê, recordou-me uma procissão na festa da minha aldeia na qual fui de figurado, embora não me lembre bem que santo incarnava. Ao meu lado, o Manel, dois anos mais novo do que eu; tinha-lhe calhado a figura de S. José, com um cajado numa mão e uma bola na outra. A procissão saía da Igreja da freguesia, até à capela da Senhora da Boa Nova, no cimo de um monte distante de dois Km, um dos quais de subida íngreme; Um foguete todos os 200m, cânticos alternados com silêncios e orações . A dado momento, o Manel, não podendo mais com o peso da bola na mão parou. O pai, que seguia alguns metros atrás, aproximou-se e berrou para o filho : toca a andar, rapaz ou caralho! Ao que o Manel respondeu : ai que caralho, esta merda pesa – e logo o pai : cala-te e anda filho da puta.
A Margarida, atenta à situação e conhecedora dos adjectivos e interjeições costumeiras da família, logo que se apercebeu da conversa entre pai e filho, abriu as goelas a fundo entoando vigorosamente um Ave Maria despropositado, gesticulando às colegas para a acompanharem, no intuito de abafar a discussão. Por fim, o pai lá se dispôs a carregar a bola ao rapaz, repetindo amiúde: caralho foda o rapaz, só à hóstia, ao que o Manel retorquia: ai que caralho, diga lá se a puta da bola não é pesada.
Ainda hoje, quando vejo o Sr. Alberto, este não deixa de me cumprimentar : Ai que caralho, é o Luis Manel! Viva Sr. Alberto, tudo bem? Estás fodido, rapaz, tens o caralho do cabelo todo branco!
Segunda-Feira, 10 de Setembro
Estou de regresso ao país dos doutores e engenheiros. Qualquer Anastácio ou Etelvina é doutor(a) ou engenheiro(a), só não anda com o título colado na testa porque tem medo que este lhe fuja com uma rabanada de vento norte. Normalmente, pouco habituado a títulos, esqueço-me de cumprimentar as pessoas com o respectivo prefixo de dr ou eng, o que é frequentemente mal visto. Desta vez, jurei-me colocar sempre um ou outro, e em caso de dúvida, mesmo os dois ao mesmo tempo, afim de não criar susceptibilidades. Passei o dia a treinar, e ao fim da tarde, quando cheguei a casa, encontrei o Adão. Não por mal, mas por força do treino diário, cumprimentei-o – Viva, Dr. Adão, como vai isso? Dr. o carvalho, seu filho da p…, vem para aqui insultar as pessoas. Se fosse mas é trabalhar. Só não levei duas lambadas, porque o Adão a essas horas não pode fazer movimentos bruscos, questão de equilíbrio. Mas disse-me a mim mesmo, acabaram-se os drs e engs. Até porque já dei com um Dr., gestor de empresas, a contar produtos numa grande superfície alimentar.

São duas da manhã e não consigo adormecer; com 8 sardinhas, 3 pimentos, 2 tomates e uma cebola a remexerem-se na pança, tudo regado com um litro de tinto verde caseiro, tambem não admira, me dirão vocês. Abusei, porque estou em casa sozinho, sem a minha mulher e a minha filha para me criticarem, uma devido à cebola, outra por causa do vinho, as duas pela quantidade. E como não tenho Internet e não gosto de ver televisão, tenho que passar o tempo. Nada como uma boa sardinhada, uma tigela de quartilho e para arrematar um bom livro. Lê-se mais devagar, o que até nem é mau, ao preço que os livros estão…
Domingo, 9 de Setembro 2007
Acabado de chegar a Portugal, fui almoçar com o meu pai a Valença, ao Afonso. Bacalhau à casa, para dois. Havia mais na travessa, do que nos quatro pratos de sexta feira em Lausanne. A apresentação deixava a desejar, as batatas estavam algo escuras, sinais de oleo com muito trabalho, a salada de tomate misturada com a cebolada do bacalhau, enfim um monte de esterco, gastromicamente falando. Servi o meu pai que, como os galegos das mesas vizinhas se atirou ao prato sem mais delongas. Ainda hesitei, mas, deixando de lado as mariquices de citadino e gastrónomo refinado, servi-me e comecei a comer. De apresentação estava uma lástima, mas de sabor e quantidade, deixava a léguas um dos mais refinados restaurantes de Lausanne. E, por 8 euros por pessoa, não se pode pedir a lua!

Sexta-feira, 7 de Setembro 2007-09-11
Fui almoçar a um dos restaurantes da moda em Lausanne, mais dois colegas, a convite do meu director; encomendei um dos pratos do dia, massas com frango; servidas num prato design, relativamente bem confeccionadas, mas cobrindo apenas a fundo do prato, seria um prato copioso para a Sofia Aparício, mas para mim, minhoto de gema, serve-me de aperitivo; o convite deveu-se a uma semana record de volume de negócios, mas sobretudo devido à confirmação da Apple para o Apple Shop in Shop a abrir na Fnac Lausanne em finais de Outubro.

domingo, 2 de setembro de 2007

A feira do 27

Tenho um particular orgulho por ter nascido numa aldeia com feira. Se bem que mensal, a feira do 27, assim baptizada por se realizar todos os 27 do mês, concedia-nos um estatuto superior; depois da Vila, a nossa aldeia era a única do concelho que tinha uma feira. Todos os meses, tinhamos assim direito a um feriado suplementar, pois em dia de feira não se trabalhava. Além do feriado suplementar, tinhamos ainda direito a 5 coroas, e se calhasse num domingo, a mesada duplicava.
Saía de casa com cinco escudos, passava em casa dos meus avós para outros cinco, e por vezes o meu padrinho também contribuía, uma vez deu-me mesmo vinte paus, penso que já tinha emborcado uns copos de jacquez. Com 10 ou 20 paus no bolso e a tarde toda pela frente, a feira do 27 era para nós, entre 1970 e 75, a mesma coisa que hoje o Colombo em fim de semana de salário para os funcionários das finanças de Benfica.
Depois de uma volta pelas tendas de trapos, botando figura com uma gasosa na mão, e uma visita à feira do gado, onde se comprava e vendia vacas, ovelhas, porcos e galinhas, chegava o primeiro momento alto da feira do 27: a visita à rosqueira, para comprar rosquitos e massapães; na tasca ao lado, comprávamos uma caneca de dois litros com duas gasosas, duas cervejas e o resto de vinho tinto. Era-mos quatro ou cinco garotos da mesma idade, refugiávamo-nos num recanto do monte adjacente, comendo e bebendo; depois enquanto um vigiava, partilhava-mos um ou dois cigarritos surripiados ao pai ou irmão mais velho.
Invariavelmente, já no fim da tarde, chegava a vez de uma das atracções mais esperadas : a venda de um remédio miraculoso, vulgo banha da cobra. O vendedor, cujo talento agregava à volta do palco improvisado uma multidão considerável, começava por descrever casos verídicos de pessoas que após ingurgitar a mistela apregoada, tinham expulsado ora pela boca, ora pelo cu, a enorme “bicha”, não de um, não de dois, não de três, mas de cinco, e até! 10metros, e agitava a prova na mão – um frasco com uma coisa amarelada enrolada. A bicha, repetia o vendedor, que pode estar alojada em qualquer um de nós, se não for expulsa, vai-nos comendo as entranhas, crescendo à medida que nós enfezamos. Felizmente, o remédio para expulsar a danada, que, lembrem-se, pode estar dentro de todos nós, existe. E não só existe, como hoje, especialmente para o povo da Valinha, está aqui ao alcance de todos. Por 10 escudos, leva, não uma, não duas, mas três bisnagas. O povo, acotovelando-se, lá se chegava ao palco improvisado para comprar a mistela.
Nós, os miúdos, afastávamo-nos em silêncio. É que a bicha, da forma que nos fora apresentada, assustava; e se tivéssemos uma dentro de nós, já com um metro? Com o correr do tempo, poderia crescer até aos 5 ou dez metros apregoados pelo vendedor. Cada um, regressando a casa, procurava possíveis indícios da existência da bicha, e eram algumas as noites mal dormidas a cogitar no assunto. Alguns dias depois, a situação voltava ao normal, até à próxima feira do 27.

Bad Santa


Este ano, as prendas natalícias são tantas, que teve de se antecipar o natal em Portugal; Em vez do Pai Natal a entrar pelas chaminés no dia 24 de Dezembro, temos o Santa Sócrates e as restantes renas governamentais a entregar computadores com ligação à Internet um pouco por todo o País, durante meses, no que parece ser o orgasmo final do famoso plano tecnológico. Isto é não só ridículo, como obsceno. A Internet é hoje, e cada vez mais, um espaço de entretimento e comercio. Uma grande fatia dos internautas passam o tempo em jogos online, visitas a sítios pornográficos, a descarregar musicas e filmes pirateados, tudo actividades não produtivas ou ilegais. È tudo isto que o nosso governo financia, com a cobertura da imprensa e das elites do nosso país. É preciso ser estúpido para pensar que alguém com trinta ou quarenta anos, pelo facto de ter um computador nas mãos com ligação à Internet, vai de repente tornar-se um cérebro da matemática, física, programação de computadores ou gestão empresarial. A formação faz-se nas escolas, em tempo útil, com professores competentes e meios adequados. É assim em toda a Europa, nunca vi nenhum país a oferecer computadores e ligação internet à borla ou quase. Após a década de noventa, com milhões de euros gastos na formação profissional, num pot pourri de cursos de tapetes de Arraiolos, informática e gestão, poda e tratores, com o resultado que se viu, hoje bis repetita, temos um plano tecnológico e novas oportunidades, cujo resultado não é difícil de adivinhar.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

A virgindade de Durão, Mendes, Sócrates e Cie

A Somague terá pago 233 mil euros de facturas de publicidade do PSD, o que em dinheiro soma para riba de quarenta mil contos. Começa o triste espectáculo de Durão Barroso, Marques Mendes e Companhia dizerem que não sabiam de nada, aparece um antigo dirigente a assumir eventuais culpas, ainda que a responsabilidade não tenha sido dele, mas de alguém que agora esta doente.
Os dirigentes actuais, com mais hipóteses de virem a suceder a Sócrates, ou o actual Presidente da CE, esses não sabem, nem nunca souberam de nada. Nunca lhes passou pela cabeça que um partido que tem receitas de meia dúzia de milhares de euros, e gasta milhões de euros em campanhas eleitorais, possa ter as suas despesas pagas por empresas.
Esses senhores são virgens, embora f… o parceiro a torto e a direito. A mim faz-me confusão como é que os Portugueses pensam que se pode ganhar eleições à força de caríssimas campanhas de comunicação, como agora é moda de dizer, respeitando a lei do financiamento dos partidos. Esta situação não é apanágio do PSD, o PS não lhe fica atrás, gasta tanto ou mais do que o PSD, com o mesmo nível de receitas próprias, portanto alguém lhes paga as facturas. Poderá haver um ou outro mecenas desinteressado, mas quem contribui com milhões de euros está a investir, para obter mais valias. Dito de forma mais simples, está a comprar influencias que, mais tarde lhe pagarão com juros. Tudo tem um preço, o poder ou se conquista pela força ou se compra. E assim não só em Portugal, como pelo mundo fora. Helmuth Koln foi condenado e admitiu financiamentos ilegais, Jacques Chirac enfrenta agora a justiça por corrupção, vários ex-ministros franceses já foram condenados e passaram pela grelha. Em Itália, Espanha, Grécia são mais que muitos os políticos apanhados nas malhas da ilegalidade, são os riscos do “metier”. Mas em Portugal, não. Os nossos dirigentes são Virgens, tal como a Virgem Maria engravidou por obra do Espírito Santo, também os nossos políticos, de esquerda ou direita, enriquecem por obra de espíritos, uns mais santos do que outros, mas todos espíritos.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Adão e Eva, fundadores da ColaCola e MacDo


Segundo Botero e a sua escultura Adão e Eva visível nos jardins de Monte Carlo, vemos muito bem que Adão foi o fundador do Macdonalds e Eva a primeira chairman da CocaCola.

Vergonha e culpa.

Na semana passada estive vinte minutos sentado à entrada do Centro Hospitalar do Alto Minho (CHAM); sem nada para fazer, entretive-me a observar as pessoas que entravam e saiam. Obtive um retrato de uma região deprimida, envelhecida, distorcida, angustiada. Na maioria idosos, alguns ainda relativamente jovens. Características comuns à grande maioria, os olhares angustiados e fatalistas; uns coxeando, outros arrastando barrigas enormes; as senhoras trajando maioritariamente de preto, conservando a tradição do luto, muitas ainda com bigodes. Nesses vinte minutos, parece-me que recuei meio século; pior, senti-me culpado, envergonhado. Não das pessoas que vi, são pessoas da minha terra, vivi muitos anos no meio delas. Senti-me culpado por, nos anos que passei na região, ter andado completamente alheado dos dramas e sofrimentos de um povo que tem de fazer 60, 80 e mesmo mais de 100 km para chegar ao único hospital do distrito; onde não existem transportes públicos ao fim de semana para se visitar um familiar ou um amigo internado no hospital distrital; senti-me envergonhado por pessoas que auferem magras reformas de 250 euros mensais não se poderem dar ao luxo de pagar 50 ou 60 euros por um táxi para visitar familiares, e quando o fazem, é em detrimento de alimentação condigna ou qualquer outro tipo de conforto para o resto do mês.
Tenho vergonha e culpa, de, nos 12 anos que passei na região, não me ter revoltado e gritado que, antes de centros de estágios, piscinas municipais, parkings subterrâneos em aldeolas e demolição de prédios, existe a necessidade de construir unidades de saúde dignas do século XXI, acessíveis a todos, em distancia e custos. Tenho vergonha e sinto culpa por nada ter feito, de ignorar os dramas de pessoas que ao longo da vida sofreram, trabalharam duro, em condições hoje consideradas desumanas, num passado ainda bastante recente. Solidariedade e respeito pelos desfavorecidos são noções que desapareceram, substituídas por planos tecnológicos, internet e computadores de borla. Envergonho-me, escorrem-me lágrimas pelas faces, sinto-me culpado e cobarde.

domingo, 29 de julho de 2007

O arganel da Katty

Recentemente, uma colega de trabalho apareceu de cabeça rapada, com um arganel no focinho. Não sei porquê, quando a vi, lembrei-me do Armando Capador, que na década de setenta arredondava o fim do mês a capar porcos e colocar piercings no focinho dos mesmos. Muitas vezes presenciei a operação, a sangue frio, que sempre me impressionava, não que tivesse qualquer piedade pelo sofrimento infligido aos animais, mas porque sempre fui um pouco maricas.
Portanto, esta moda dos piercings, não é nenhuma novidade. Evoluiu o nome, de arganel passou a piercing, evoluíram os destinatários, ou não tanto, pois alguns dos portadores dos arganeis de hoje não ficam nada a dever aos porcos de outrora.
Quase quarenta anos depois, é pena que o Armando Capador se tenha reformado. Com a técnica e endurance adquiridas a capar e colocar piercings nos suínos, poderia agora ganhar uns largos cobres a colocar arganeis nos focinhos desta juventude desejosa de perpetuar as tradições.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

As truces do Chico Cigano

Com catorze anos, abalei do Minho para Torres Vedras, começando na altura a minha vida de saltimbanco profissional. Apenas 500 Km de distância, mas um mundo totalmente diferente. Na pastelaria para onde fui trabalhar, as senhoras bebiam chá, os moços e moças copos de leite e iogurtes e os funcionários do banco do lado comiam sandes de paio regadas, uns com compal de pêssego, outros com uma taça de verde. Na minha terra, comia-se broa com toucinho ou sardinhas de cebolada, regadas com tigelas de tinto. Chá, só de cidreira, para as dores de barriga. Depressa me habituei a todas as modernices, apreciava sobretudo os yougurtes Veneza, de morango, aos quais juntava três e quatro pacotes de açúcar. Até o chá experimentei, um dia em que engoli 5 pasteis de nata ainda quentes às escondidas do patrão.
Conheci muita coisa nova, até que um dia fiquei “encavacado”. Um colega de trabalho disse-me que tinha comprado quatro pares de truces por vinte paus, no Chico Cigano, e perguntou-me se também queria comprar. Nunca tendo ouvido falar de tal coisa, mas não querendo passar por ignorante, respondi que não precisava, tinha trazido suficientes, pois lá em cima eram mais baratos e “up-to-date”, vinham da Galiza. Fiquei a cogitar no que seriam os truces, comprados no Chico Cigano, eram certamente uma peça de vestuário. A vinte paus os quatro pares, não podia ser grande indumentária. Peúgas, lenços, luvas? Não sei porquê, nunca associei truces a cuecas. Só consegui descobrir o que eram as truces, quando, um dia, para saber do que se tratava, entrei numa loja de moda , e quando a empregada me abordou a perguntar o que desejava, disse: pretendo quatro pares de truces….

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Política e sabonetes

“Directas no PSD
Menezes anuncia candidatura hoje às 20h
Por Sofia Rainho
Luís Filipe Menezes já contratou a empresa de comunicação Cunha Vaz para fazer a sua campanha e intensificou contactos nos últimos dias….
sofia.rainho@sol.pt”

Copiei este texto do jornal Sol. Serve-me de motivo para o meu primeiro post sobre politica. A notícia em si, não é nada de espantar; desde há muito tempo que LFM acaricia a ideia de tomar conta do PSD, para depois aceder ao posto de 1º ministro e gobernar o País. Nada de mais legítimo, pois parece-me que, infelizmente, na minha Lusitânia cada vez menos-amada, qualquer fulano que se saiba posicionar em frente de uma câmara de televisão e dizer quatro parvoíces englobando planos tecnológicos, banda larga e computadores à borlex, está mais ou menos assegurado de permanecer quatro, ou mesmo oito anos à frente de um governo dos mais avançados da Europa, tecnologicamente falando. Tem, portanto LFM, toda a legitimidade para se candidatar a líder do segundo maior partido (longe de se endireitar, na minha humilde opinião) da oposição na expectativa mais que provável de chegar a primeiro ministro, não por qualquer mérito próprio, mas pela tradicional usura do poder e pertinência da sua campanha de comunicação. Aproveito para escrever, porque a notícia do SOL – “LFM já contratou a empresa de comunicação Cunha Vaz” - mexe-me com os rebofes, como se diz no meu Minho natal. Um posto de liderança não se conquista com ideias e ideais, convicção e capacidade, mas sim com uma campanha publicitária bem organizada. Não é nada de novo, assim Sócrates chegou ao poder, antes de Sócrates, Santana, Durão ou Guterres. A mim, contudo, choca-me a ideia de se vender um governante como se vende um sabonete ou um detergente. Sócrates lava mais branco que Persil; Marques Mendes suja mais do lava; Luís Filipe Menezes lavará como tu, das unhas dos pés às bordas do …

Felizmente, conservo uma tigela de quartilho, que encho, na falta do saudoso Jaquez, com Rioja ou Reguengos (ainda não ganho o suficiente para Bordeaux 1er Cru) e me permite purgar a mente da politiquice rasca portuguesa.

domingo, 22 de julho de 2007

Onde se fala de Jacquez, actimel e viagra de outros tempos e de outras absurdidades.

Não sei qual a predominância dos aromas, se amora silvestre ou batata doce, tão pouco a intensidade dos taninos. Na boca, na ausência de corpo ou densidade, deixava um rasto de frescura; quando tinha agulha, a tigela de quartilho escorregava de um trago.
Na ausência de estrutura, corpo e toques florais, compensava com outras virtudes. À segunda ou terceira tigela de quartilho, sobressaiam de imediato as qualidades reguladoras da fauna intestinal. No percurso da taberna até casa, nos recantos dos caminhos, ou debaixo dos carvalhos adjacentes, era um regalo ver como os intestinos se purgavam, expulsando milhões de bactérias.
Além dos benefícios naturais para a flora intestinal, as tigelas de quartilho de Jacquez contribuíam para o entretenimento do fim de semana, dignas antecessoras dos Reality Shows da TVI. Eu e outros miúdos da aldeia seguíamos os consumidores do precioso néctar, apostando em que recanto ou debaixo de qual carvalho iriam purgar. Por vezes, tínhamos direito a espectáculo completo. Juntando-se a bebedeira e a caganeira, um deles tombava em cima das bactérias recentemente expulsas por outros companheiros.
Reverso da medalha, embora de fraco teor alcoólico, o jacquez aguçava apetites e despertava tendências violentas; quando a mulher não se mostrasse submissa e conivente, resultava em sova dominical, frequentemente extensiva aos filhos, por vezes aos vizinhos.

O jacquez, ou Alvarinho de Friestas como lhe chamava o meu pai, desde há muito banido das adegas, veio-me à ideia para começar a escrever este blog. Como se pode deduzir, começo já a concorrer para o título do blog mais absurdo da blogosfera.