domingo, 29 de julho de 2007

O arganel da Katty

Recentemente, uma colega de trabalho apareceu de cabeça rapada, com um arganel no focinho. Não sei porquê, quando a vi, lembrei-me do Armando Capador, que na década de setenta arredondava o fim do mês a capar porcos e colocar piercings no focinho dos mesmos. Muitas vezes presenciei a operação, a sangue frio, que sempre me impressionava, não que tivesse qualquer piedade pelo sofrimento infligido aos animais, mas porque sempre fui um pouco maricas.
Portanto, esta moda dos piercings, não é nenhuma novidade. Evoluiu o nome, de arganel passou a piercing, evoluíram os destinatários, ou não tanto, pois alguns dos portadores dos arganeis de hoje não ficam nada a dever aos porcos de outrora.
Quase quarenta anos depois, é pena que o Armando Capador se tenha reformado. Com a técnica e endurance adquiridas a capar e colocar piercings nos suínos, poderia agora ganhar uns largos cobres a colocar arganeis nos focinhos desta juventude desejosa de perpetuar as tradições.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

As truces do Chico Cigano

Com catorze anos, abalei do Minho para Torres Vedras, começando na altura a minha vida de saltimbanco profissional. Apenas 500 Km de distância, mas um mundo totalmente diferente. Na pastelaria para onde fui trabalhar, as senhoras bebiam chá, os moços e moças copos de leite e iogurtes e os funcionários do banco do lado comiam sandes de paio regadas, uns com compal de pêssego, outros com uma taça de verde. Na minha terra, comia-se broa com toucinho ou sardinhas de cebolada, regadas com tigelas de tinto. Chá, só de cidreira, para as dores de barriga. Depressa me habituei a todas as modernices, apreciava sobretudo os yougurtes Veneza, de morango, aos quais juntava três e quatro pacotes de açúcar. Até o chá experimentei, um dia em que engoli 5 pasteis de nata ainda quentes às escondidas do patrão.
Conheci muita coisa nova, até que um dia fiquei “encavacado”. Um colega de trabalho disse-me que tinha comprado quatro pares de truces por vinte paus, no Chico Cigano, e perguntou-me se também queria comprar. Nunca tendo ouvido falar de tal coisa, mas não querendo passar por ignorante, respondi que não precisava, tinha trazido suficientes, pois lá em cima eram mais baratos e “up-to-date”, vinham da Galiza. Fiquei a cogitar no que seriam os truces, comprados no Chico Cigano, eram certamente uma peça de vestuário. A vinte paus os quatro pares, não podia ser grande indumentária. Peúgas, lenços, luvas? Não sei porquê, nunca associei truces a cuecas. Só consegui descobrir o que eram as truces, quando, um dia, para saber do que se tratava, entrei numa loja de moda , e quando a empregada me abordou a perguntar o que desejava, disse: pretendo quatro pares de truces….

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Política e sabonetes

“Directas no PSD
Menezes anuncia candidatura hoje às 20h
Por Sofia Rainho
Luís Filipe Menezes já contratou a empresa de comunicação Cunha Vaz para fazer a sua campanha e intensificou contactos nos últimos dias….
sofia.rainho@sol.pt”

Copiei este texto do jornal Sol. Serve-me de motivo para o meu primeiro post sobre politica. A notícia em si, não é nada de espantar; desde há muito tempo que LFM acaricia a ideia de tomar conta do PSD, para depois aceder ao posto de 1º ministro e gobernar o País. Nada de mais legítimo, pois parece-me que, infelizmente, na minha Lusitânia cada vez menos-amada, qualquer fulano que se saiba posicionar em frente de uma câmara de televisão e dizer quatro parvoíces englobando planos tecnológicos, banda larga e computadores à borlex, está mais ou menos assegurado de permanecer quatro, ou mesmo oito anos à frente de um governo dos mais avançados da Europa, tecnologicamente falando. Tem, portanto LFM, toda a legitimidade para se candidatar a líder do segundo maior partido (longe de se endireitar, na minha humilde opinião) da oposição na expectativa mais que provável de chegar a primeiro ministro, não por qualquer mérito próprio, mas pela tradicional usura do poder e pertinência da sua campanha de comunicação. Aproveito para escrever, porque a notícia do SOL – “LFM já contratou a empresa de comunicação Cunha Vaz” - mexe-me com os rebofes, como se diz no meu Minho natal. Um posto de liderança não se conquista com ideias e ideais, convicção e capacidade, mas sim com uma campanha publicitária bem organizada. Não é nada de novo, assim Sócrates chegou ao poder, antes de Sócrates, Santana, Durão ou Guterres. A mim, contudo, choca-me a ideia de se vender um governante como se vende um sabonete ou um detergente. Sócrates lava mais branco que Persil; Marques Mendes suja mais do lava; Luís Filipe Menezes lavará como tu, das unhas dos pés às bordas do …

Felizmente, conservo uma tigela de quartilho, que encho, na falta do saudoso Jaquez, com Rioja ou Reguengos (ainda não ganho o suficiente para Bordeaux 1er Cru) e me permite purgar a mente da politiquice rasca portuguesa.

domingo, 22 de julho de 2007

Onde se fala de Jacquez, actimel e viagra de outros tempos e de outras absurdidades.

Não sei qual a predominância dos aromas, se amora silvestre ou batata doce, tão pouco a intensidade dos taninos. Na boca, na ausência de corpo ou densidade, deixava um rasto de frescura; quando tinha agulha, a tigela de quartilho escorregava de um trago.
Na ausência de estrutura, corpo e toques florais, compensava com outras virtudes. À segunda ou terceira tigela de quartilho, sobressaiam de imediato as qualidades reguladoras da fauna intestinal. No percurso da taberna até casa, nos recantos dos caminhos, ou debaixo dos carvalhos adjacentes, era um regalo ver como os intestinos se purgavam, expulsando milhões de bactérias.
Além dos benefícios naturais para a flora intestinal, as tigelas de quartilho de Jacquez contribuíam para o entretenimento do fim de semana, dignas antecessoras dos Reality Shows da TVI. Eu e outros miúdos da aldeia seguíamos os consumidores do precioso néctar, apostando em que recanto ou debaixo de qual carvalho iriam purgar. Por vezes, tínhamos direito a espectáculo completo. Juntando-se a bebedeira e a caganeira, um deles tombava em cima das bactérias recentemente expulsas por outros companheiros.
Reverso da medalha, embora de fraco teor alcoólico, o jacquez aguçava apetites e despertava tendências violentas; quando a mulher não se mostrasse submissa e conivente, resultava em sova dominical, frequentemente extensiva aos filhos, por vezes aos vizinhos.

O jacquez, ou Alvarinho de Friestas como lhe chamava o meu pai, desde há muito banido das adegas, veio-me à ideia para começar a escrever este blog. Como se pode deduzir, começo já a concorrer para o título do blog mais absurdo da blogosfera.