sexta-feira, 10 de abril de 2009

Dia de ir à merda

Da quadra pascal guardo muitos "souvenirs", por exemplo, a cóboiada do confesso, onde no acto mesmo se pecava, ao inventar pecados que o padre gostava de ouvir - por exemplo confessar como pecado consumido o fantasma de apalpar as mamas da Gloria ou as coxas da Teresa, pecados que o abade se empenhava em desenvolver, procurando sempre saber mais, se não tinha apalpado mais nada, e a mais ninguém. Curiosamente, mais o rol de pecados aumentava, mais branda era a penitência.
Por exemplo, o fartote de doçarias, entre pães de ló, tortas, bolos de coco e por aí fora; A festa começava nos dias anteriores, onde em troca de lavar a louça ganhava o direito de rapar os tachos com os restos das massas dos bolos, tendo mesmo direito a um copo de vinho "fino".
Por exemplo, estrear calças novas, por vezes um casaco, quase sempre uns sapatos. Ainda me lembro de uma vez em que ia apanhando uma tareia, por no dia mesmo ter estragado a biqueira do pé direito, fruto de um penalti apontado à Eusébio, numa peladinha jogada no caminho, enquanto se esperava a chegada da comitiva pascal, valeu-me a solenidade da quadra para escapar ao castigo.
Por exemplo, no sábado ao cair da tarde ter ir pedir merda ao Anselmo. Sim, merda - mais precisamente bosta de vaca - necessária para, juntamente com borralha fazer a mistura que vedaria a porta do forno onde no domingo de manhã assaria o carneiro ou ovelha tradicionais da quadra.