Ou em marcha atrás, para quem não perceber as subtilezas da terminologia alto-minhota.
Domingo, 16 de Setembro 2007, dia de cozido.
A receita:
Ingredientes para ??? pessoas : 300g de carne vaca, 1 chouriço salpicão caseiro, 1 quarto de frango, 300g de presunto caseiro, 300g de costela, 300g de toucinho entremeado; uma mão de porco; 1 repolho, 4 cenouras, 6 batatas, 250g de feijão verde. Uma tigela de arroz.
Confecção:
Leva-se uma panela (grande) meia de agua ao lume. Quando a agua ferver, botam-se dentro as carnes. Deixa-se cozer as mesmas o tempo necessário (no meu caso, o tempo de ir comprar o jornal à farmácia, ler as noticiais principais e tomar dois cafés no Vaz). Retiram-se as carnes, e acrescenta-se duas tigelas de agua que será retirada para levar o arroz ao forno. Quando ferver de novo, retira-se a água para o arroz, e mergulham-se os legumes. Deixa-se cozer. Numa assadeira de barro, onde previamente se deitou a água, dissolve-se uma colher de cha de açafrão, junta-se o arroz e leva-se ao forno.
Quando os legumes estiverem cozidos, (no meu caso, o tempo de beber três copos de Alvarinho pingo doce vinificado pelo Anselmo Mendes – não vale nada, diga-se de passagem- de pôr a mesa e colocar uma garrafa de tinto caseiro a refrescar) colocam-se as carnes dentro da panela para aquecerem. Retiram-se e cortam-se as carnes, colocando-as numa travessa; noutra travessa, colocam-se os legumes; Retira-se o arroz do forno e coloca-se tudo na mesa.
Serve-se os convivas, neste caso dois, eu e o meu pai, pois a minha mãe quase que ainda não come, saída do hospital à 4 dias. Acompanha-se com a garrafa de tinto de litro, uma mistura de “qualidades” e uns resquícios de jacquez.
Consequências:
As seis da tarde , depois de 2 cafés, 1 whisky velho e três garrafas de água das pedras no Freak’s Bar, parece que a mão de porco ainda anda aos chutos no presunto dentro do estômago.
Sábado, 15 de Setembro 2007
Um calor de rachar, S. Pedro está a ficar chalado, confunde os meses; Um calor destes, quando o santo ainda atinava, era em meados de Julho ou princípios de Agosto. Almocei bem ( massa com feijão, chouriço, carne de vaca e toucinho entremeado, tudo regado com uma tigela de quartilho). Estou sentado debaixo do limoeiro, corre uma ligeira brisa que ameniza a temperatura, e releio o jornal do dia. Resvalo para uma ligeira sonolência, leio um título aqui, duas linhas acolá, passo um quarto de hora em cada página. Não longe de mim, um gato a espiar-me, como eu, meio acordado, meio a dormir. De repente, acordo-me a mim e ao gato, com dois peidos valentes (esqueci-me de dizer que comi mais feijão do que massa), que quase fizeram com que me caisse um limão em cima da testa. Chega de calaceirice, digo-me a mim mesmo. Toca a fazer algo. E foi ai que me disse, agora que pus o meu blog no ar, tenho de o alimentar. E começo a tomar notas mentais sobre a actualidade, a ver se arranjo algo sobre que escrever.
O sopapo de Filipão ocupa duas páginas no DN; Jornalistas, colunistas, analistas e políticos opinam, analisam, julgam o sopapo de Filipão. Uns condenam, outros desculpam, todos comentam. Quanto a mim, digo aleluia, depois de cinco anos sem fazer nada e a ganhar milhões, até que enfim que faz alguma coisa de jeito. Estou convencido que o sopapo de seu Luis Filipe , fez falar mais da selecção portuguesa e de Portugal na Europa do que o quarto lugar no último mundial. Força, seu Luís, isto é mata mata, se não vai a chuto no couro esférico, vai a murro no focinho!
Sexta-Feira, dia 14 de Setembro 2007
Fui almoçar aos Arcos de Valdevez. Esta Vila do Alto Minho, de que sempre gostei, tem tido uma evolução digna de louvar. Asseada, com uma marginal do Vez bem ordenada e convidativa, o centro restaurado, respira-se ar puro e come-se bem. Mesmo o parcómetro avariado me deu satisfação. Estive estacionado três horas e ninguém me multou, coisa rara nos dias de hoje.
De regresso a casa, releio o jornal; como não podia deixar de ser, o caso Maddie ocupa metade do jornal. Lamento, como todos, que uma criança tenha desaparecido e que esteja eventualmente morta. Agora, o circo mediático que se montou à volta deste caso, onde até o papa meteu o nariz, mete-me nojo. Dois médicos ingleses, que dão soníferos aos filhos para irem emborcar seis ou oito garrafas de vinho para o restaurante com os amigos, há muito que deviam estar presos. Se há povo arrogante, xenófobo, em suma nojento com a sua superioridade aristocrática, são os ingleses. Que o resto do mundo, e os portugueses em particular, lhes dê toda esta atenção, demonstra muita estupidez e submissão parola.
Quinta-Feira, dia 13 de Setembro de 2007
Li qualquer coisa sobre o negócio da saúde em Portugal, que me fez lembrar a tia Joaquina, talhadeira de peçonha e mau ar.
Com os centros de saúde a encerrarem a torto e a direito, os hospitais a reduzirem os médicos e enfermeiros ao mínimo dos mínimos, os portugueses terão que se habituar a terapias de antigamente. Dantes, existia nas aldeias, a par dos endireitas e bruxos, a figura da talhadeira. Concentravam-se patologias diversas - doenças da pele, depressões, falta de apetite, dor de corno ou icterícia – em duas definições abrangentes : peçonha ou mau ar. Para isso, recorria-se em primeiro lugar à talhadeira – o SAP dos tempos do Salazar. A receita consistia numa lenga-lenga, um misto de satanismo e catolicismo, acompanhada de gesticulação adequada que rezava assim :
- Sapo, sapão, cobra, cobrão, aranha, aranhão, lagarto, lagartão, eu te corto, eu te retalho, a cabeça e o rabo. Pela graça de Deus e da virgem Maria, um padre nosso e uma ave Maria.
Por vezes acontecia que o talhado vinha a recuperar das maleitas, confortando assim a ideia de que a talhadeira tinha verdadeiros poderes.
Para os miúdos, que na brincadeira pediam à tia Joaquina que também lhes talhasse a peçonha, esta tinha inventado uma receita a propósito:
- Se uso e pela tinhas porque não me dirias que eu ta talharia com três peidos meus, três de Mateus, três do nosso cão, e vai-te embora que já estas são.
Se a tia Joaquina vivesse hoje, a miúdos e graúdos certamente diria algo assim : se alguma doença tens, bastará dizer, talhado serás, com três peidos de Sócrates, três de Cavaco e três de Durão, vai-te embora que já estás são.
Quarta-feira, dia 12 de Setembro 2007
Inicio de mais um ano lectivo, embora em apenas algumas escolas. A abertura da totalidade deverá acontecer lá para meados de Dezembro, quando se conseguir conciliar professores, alunos e estabelecimentos.
Este ano, a novidade consistiu em termos o governo em peso a dar o tiro de partida. Primeiro ministro, ministros, secretários de estado, adjuntos dos secretários, espalharam-se pelo país. Parece que andaram a entregar computadores com Internet às escolas. Para o ano irão entregar telemoveis, depois relógios com televisão, que Portugal precisa de gente bem (in)formada e com capacidade de comunicação.
Entretanto, eu gostaria de saber a quanto monta a factura da Microsoft, TMN e outros parceiros.
Terça-Feira, 11 de Setembro 2007
Avistei a Margarida, adjunta dos padres que tem passado pela minha aldeia e eterna candidata a celebrar missa e confessar almas. Não sei porquê, recordou-me uma procissão na festa da minha aldeia na qual fui de figurado, embora não me lembre bem que santo incarnava. Ao meu lado, o Manel, dois anos mais novo do que eu; tinha-lhe calhado a figura de S. José, com um cajado numa mão e uma bola na outra. A procissão saía da Igreja da freguesia, até à capela da Senhora da Boa Nova, no cimo de um monte distante de dois Km, um dos quais de subida íngreme; Um foguete todos os 200m, cânticos alternados com silêncios e orações . A dado momento, o Manel, não podendo mais com o peso da bola na mão parou. O pai, que seguia alguns metros atrás, aproximou-se e berrou para o filho : toca a andar, rapaz ou caralho! Ao que o Manel respondeu : ai que caralho, esta merda pesa – e logo o pai : cala-te e anda filho da puta.
A Margarida, atenta à situação e conhecedora dos adjectivos e interjeições costumeiras da família, logo que se apercebeu da conversa entre pai e filho, abriu as goelas a fundo entoando vigorosamente um Ave Maria despropositado, gesticulando às colegas para a acompanharem, no intuito de abafar a discussão. Por fim, o pai lá se dispôs a carregar a bola ao rapaz, repetindo amiúde: caralho foda o rapaz, só à hóstia, ao que o Manel retorquia: ai que caralho, diga lá se a puta da bola não é pesada.
Ainda hoje, quando vejo o Sr. Alberto, este não deixa de me cumprimentar : Ai que caralho, é o Luis Manel! Viva Sr. Alberto, tudo bem? Estás fodido, rapaz, tens o caralho do cabelo todo branco!
Segunda-Feira, 10 de Setembro
Estou de regresso ao país dos doutores e engenheiros. Qualquer Anastácio ou Etelvina é doutor(a) ou engenheiro(a), só não anda com o título colado na testa porque tem medo que este lhe fuja com uma rabanada de vento norte. Normalmente, pouco habituado a títulos, esqueço-me de cumprimentar as pessoas com o respectivo prefixo de dr ou eng, o que é frequentemente mal visto. Desta vez, jurei-me colocar sempre um ou outro, e em caso de dúvida, mesmo os dois ao mesmo tempo, afim de não criar susceptibilidades. Passei o dia a treinar, e ao fim da tarde, quando cheguei a casa, encontrei o Adão. Não por mal, mas por força do treino diário, cumprimentei-o – Viva, Dr. Adão, como vai isso? Dr. o carvalho, seu filho da p…, vem para aqui insultar as pessoas. Se fosse mas é trabalhar. Só não levei duas lambadas, porque o Adão a essas horas não pode fazer movimentos bruscos, questão de equilíbrio. Mas disse-me a mim mesmo, acabaram-se os drs e engs. Até porque já dei com um Dr., gestor de empresas, a contar produtos numa grande superfície alimentar.
São duas da manhã e não consigo adormecer; com 8 sardinhas, 3 pimentos, 2 tomates e uma cebola a remexerem-se na pança, tudo regado com um litro de tinto verde caseiro, tambem não admira, me dirão vocês. Abusei, porque estou em casa sozinho, sem a minha mulher e a minha filha para me criticarem, uma devido à cebola, outra por causa do vinho, as duas pela quantidade. E como não tenho Internet e não gosto de ver televisão, tenho que passar o tempo. Nada como uma boa sardinhada, uma tigela de quartilho e para arrematar um bom livro. Lê-se mais devagar, o que até nem é mau, ao preço que os livros estão…
Domingo, 9 de Setembro 2007
Acabado de chegar a Portugal, fui almoçar com o meu pai a Valença, ao Afonso. Bacalhau à casa, para dois. Havia mais na travessa, do que nos quatro pratos de sexta feira em Lausanne. A apresentação deixava a desejar, as batatas estavam algo escuras, sinais de oleo com muito trabalho, a salada de tomate misturada com a cebolada do bacalhau, enfim um monte de esterco, gastromicamente falando. Servi o meu pai que, como os galegos das mesas vizinhas se atirou ao prato sem mais delongas. Ainda hesitei, mas, deixando de lado as mariquices de citadino e gastrónomo refinado, servi-me e comecei a comer. De apresentação estava uma lástima, mas de sabor e quantidade, deixava a léguas um dos mais refinados restaurantes de Lausanne. E, por 8 euros por pessoa, não se pode pedir a lua!
Sexta-feira, 7 de Setembro 2007-09-11
Fui almoçar a um dos restaurantes da moda em Lausanne, mais dois colegas, a convite do meu director; encomendei um dos pratos do dia, massas com frango; servidas num prato design, relativamente bem confeccionadas, mas cobrindo apenas a fundo do prato, seria um prato copioso para a Sofia Aparício, mas para mim, minhoto de gema, serve-me de aperitivo; o convite deveu-se a uma semana record de volume de negócios, mas sobretudo devido à confirmação da Apple para o Apple Shop in Shop a abrir na Fnac Lausanne em finais de Outubro.
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