Na semana passada estive vinte minutos sentado à entrada do Centro Hospitalar do Alto Minho (CHAM); sem nada para fazer, entretive-me a observar as pessoas que entravam e saiam. Obtive um retrato de uma região deprimida, envelhecida, distorcida, angustiada. Na maioria idosos, alguns ainda relativamente jovens. Características comuns à grande maioria, os olhares angustiados e fatalistas; uns coxeando, outros arrastando barrigas enormes; as senhoras trajando maioritariamente de preto, conservando a tradição do luto, muitas ainda com bigodes. Nesses vinte minutos, parece-me que recuei meio século; pior, senti-me culpado, envergonhado. Não das pessoas que vi, são pessoas da minha terra, vivi muitos anos no meio delas. Senti-me culpado por, nos anos que passei na região, ter andado completamente alheado dos dramas e sofrimentos de um povo que tem de fazer 60, 80 e mesmo mais de 100 km para chegar ao único hospital do distrito; onde não existem transportes públicos ao fim de semana para se visitar um familiar ou um amigo internado no hospital distrital; senti-me envergonhado por pessoas que auferem magras reformas de 250 euros mensais não se poderem dar ao luxo de pagar 50 ou 60 euros por um táxi para visitar familiares, e quando o fazem, é em detrimento de alimentação condigna ou qualquer outro tipo de conforto para o resto do mês.
Tenho vergonha e culpa, de, nos 12 anos que passei na região, não me ter revoltado e gritado que, antes de centros de estágios, piscinas municipais, parkings subterrâneos em aldeolas e demolição de prédios, existe a necessidade de construir unidades de saúde dignas do século XXI, acessíveis a todos, em distancia e custos. Tenho vergonha e sinto culpa por nada ter feito, de ignorar os dramas de pessoas que ao longo da vida sofreram, trabalharam duro, em condições hoje consideradas desumanas, num passado ainda bastante recente. Solidariedade e respeito pelos desfavorecidos são noções que desapareceram, substituídas por planos tecnológicos, internet e computadores de borla. Envergonho-me, escorrem-me lágrimas pelas faces, sinto-me culpado e cobarde.
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