Com catorze anos, abalei do Minho para Torres Vedras, começando na altura a minha vida de saltimbanco profissional. Apenas 500 Km de distância, mas um mundo totalmente diferente. Na pastelaria para onde fui trabalhar, as senhoras bebiam chá, os moços e moças copos de leite e iogurtes e os funcionários do banco do lado comiam sandes de paio regadas, uns com compal de pêssego, outros com uma taça de verde. Na minha terra, comia-se broa com toucinho ou sardinhas de cebolada, regadas com tigelas de tinto. Chá, só de cidreira, para as dores de barriga. Depressa me habituei a todas as modernices, apreciava sobretudo os yougurtes Veneza, de morango, aos quais juntava três e quatro pacotes de açúcar. Até o chá experimentei, um dia em que engoli 5 pasteis de nata ainda quentes às escondidas do patrão.
Conheci muita coisa nova, até que um dia fiquei “encavacado”. Um colega de trabalho disse-me que tinha comprado quatro pares de truces por vinte paus, no Chico Cigano, e perguntou-me se também queria comprar. Nunca tendo ouvido falar de tal coisa, mas não querendo passar por ignorante, respondi que não precisava, tinha trazido suficientes, pois lá em cima eram mais baratos e “up-to-date”, vinham da Galiza. Fiquei a cogitar no que seriam os truces, comprados no Chico Cigano, eram certamente uma peça de vestuário. A vinte paus os quatro pares, não podia ser grande indumentária. Peúgas, lenços, luvas? Não sei porquê, nunca associei truces a cuecas. Só consegui descobrir o que eram as truces, quando, um dia, para saber do que se tratava, entrei numa loja de moda , e quando a empregada me abordou a perguntar o que desejava, disse: pretendo quatro pares de truces….
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