Não sei qual a predominância dos aromas, se amora silvestre ou batata doce, tão pouco a intensidade dos taninos. Na boca, na ausência de corpo ou densidade, deixava um rasto de frescura; quando tinha agulha, a tigela de quartilho escorregava de um trago.
Na ausência de estrutura, corpo e toques florais, compensava com outras virtudes. À segunda ou terceira tigela de quartilho, sobressaiam de imediato as qualidades reguladoras da fauna intestinal. No percurso da taberna até casa, nos recantos dos caminhos, ou debaixo dos carvalhos adjacentes, era um regalo ver como os intestinos se purgavam, expulsando milhões de bactérias.
Além dos benefícios naturais para a flora intestinal, as tigelas de quartilho de Jacquez contribuíam para o entretenimento do fim de semana, dignas antecessoras dos Reality Shows da TVI. Eu e outros miúdos da aldeia seguíamos os consumidores do precioso néctar, apostando em que recanto ou debaixo de qual carvalho iriam purgar. Por vezes, tínhamos direito a espectáculo completo. Juntando-se a bebedeira e a caganeira, um deles tombava em cima das bactérias recentemente expulsas por outros companheiros.
Reverso da medalha, embora de fraco teor alcoólico, o jacquez aguçava apetites e despertava tendências violentas; quando a mulher não se mostrasse submissa e conivente, resultava em sova dominical, frequentemente extensiva aos filhos, por vezes aos vizinhos.
O jacquez, ou Alvarinho de Friestas como lhe chamava o meu pai, desde há muito banido das adegas, veio-me à ideia para começar a escrever este blog. Como se pode deduzir, começo já a concorrer para o título do blog mais absurdo da blogosfera.
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