terça-feira, 12 de agosto de 2008

Saudades

A saudade, a par da sardinha assada, cuspir e atirar as cascas de amendoins e tremoços para o chão, é certamente uma das características da identidade genética dos portugueses. Podemos falar várias línguas, viver a milhares de Km do território nacional, comer Sushis pizzas ou fondue, mas a saudade relembra-nos as nossas raízes. Hoje, sem motivo preciso, dei comigo a ter saudades da praia de Âncora. Poucas vezes lá fui, recordo-me (sem saudade) das águas geladas do mar, que nos enquerquilhavam os tomates, mas sobretudo dos charcos de água em alturas de maré baixa, aquecidos pelo sol e enriquecidos com os detritos do rio Âncora. Nessas piscinas naturais, além de se retemperar os acima falados, havia sempre uma animação suplementar: não era raro, ao vir à tona de um mergulho, ter pendurada no nariz uma camisa (sem mangas), grãos de merda nas orelhas e outras preciosidades arrastadas pelo riacho. Muitas vezes, havia mais gente a banhos nos charcos que no mar, e não me recordo de ouvir dizer que houvesse grandes epidemias, alergias ou indisposições. Também é verdade que não existiam médicos ou centros de saúde onde uma pessoa se ir queixar de diarreias, vómitos e enjoos. Talvez também a merda de outros tempos fosse mais saudável do que são hoje muitos alimentos. Enfim saudades, são como gostos e cores, cada um tem as tem e não se discutem.

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